domingo, 4 de janeiro de 2015
Reportagem sobre Alexandre Bandarra no Jornal do Meio Dia - Ric Record
Um ex-morador de rua descobriu força para superar as dificuldades ao narrar sua trajetória em um livro. Contar sua história foi a forma que encontrou para refletir sobre sua vida, e reescrever seu destino. Ao conhecer um amigo, que era poeta, ele descobriu o gosto por história e decidiu transpor ao papel seu sofrimento e a dificuldade de lutar contra os vícios.
Não foi possível baixar o vídeo e disponibilizá-lo aqui, porém através do link abaixo é possível acessar o vídeo completo:
* http://ricmais.com.br/sc/jornal-do-meio-dia/videos/ex-_-morador-de-rua-de-florianopolis-transforma-historia-em-livro/
(Caso não consiga acessar basta entrar no site http://ricmais.com.br/sc/jornal-do-meio-dia
e procurar a matéria que foi transmitida no dia 26/12/2014).
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
À MINHA ADICÇÃO
Somente a minha adicção, minha
dependência química que trata único exclusivamente do meu comportamento, do meu
espírito, por isso não me arrependo do que foi feito, do que foi perdido e de
ter conhecido o fundo de poço salvador, só por hoje!
Graças ao
que fiz no passado e faço muito hoje ainda aprendo através de uma colheita
provinda de um plantio muito especial. Aquele que fez eu ter as oportunidades
que tenho hoje de crescer através de um programa de vida que fala de
espiritualidade. O básico para que o meu comportamento passe por mudanças e
mais, me ensine o autoconhecimento como ser humano. “isso tudo se eu quiser”.
Tive que
usar muita droga, beber muito, me comportar de uma maneira muito errada para
chegar a essa consciência.
SALVE, SALVE O PRODUTO
DE TUDO ISSO!
Alexandre
Alexandre Bandarra lança seu livro "Logoff" na Secretaria de Assistência Social
Ex-morador de rua conta sua vida em livro
Alexandre Bandarra está há seis meses na Casa de Apoio Social da Secretaria de Assistência Social, em processo de desintoxicação
Logoff, encerramento de uma sessão de conexão. É com esse termo significativo que Alexandre Bandarra, ex-morador de rua, nomeou o livro que escreveu sobre a difícil trajetória que passou com as drogas por mais de 14 anos. Há seis meses, está na Casa de Apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social, em processo de dexintoxicação, e lançou seu primeiro trabalho para os funcionários da Pasta, que o apoiaram em todo o processo.
Natural de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, “o Piloto”, como era conhecido nas ruas, trabalhou com aviação agrícola por muitos anos no Mato Grosso do Sul. Veio para Florianópolis em 2001 e em 2005 envolveu-se com a bebida alcóolica, que, pouco tempo depois, trouxe junto a dependência química e mais de 40 internações.
Nas ruas do município, conheceu Paulo Poeta, também morador de rua, que se tornou um grande amigo. Os dois mantiveram uma parceria vendendo poesias e alojavam-se na Praça XV e na Praça dos Bombeiros, no Centro. Em um dos seus textos, denominado “Sentimento”, Alexandre descreve um pouco da relação entre os dois:
“Conheci um indivíduo que se denominava ‘poeta’. Estava nas mesmas condições que a minha, ou seja, acostumado a sentar no banco da praça para beber o fruto de um bom mangueio (pedir dinheiro). O que nos uniu em primeiro lugar foi isso. A atração. Depois a conversa e a identificação na doença. Isso a princípio já foi o suficiente para que, quando um não tinha, o outro tinha, mas não era por isso que o que tinha caísse fora quando o outro não tinha. Aí começou.”
Por muito tempo, dividiram uma boa amizade, mas também o vício, que desgastou a saúde dos dois. “Passamos por experiências difíceis juntos. O Poeta foi meu parceiro nas horas boas e ruins na rua. Nunca pensei que a dependência química fosse capaz de me unir a uma pessoa com o mesmo problema que eu, e resultar em uma grande amizade”, contou o Piloto.
De volta à cidadania
Há pouco mais de seis meses, Alexandre aceitou o convite da equipe da Abordagem Social e está na Casa de Apoio. Hoje, recebe todo a ajuda necessária para uma nova vida sem as drogas. “O Poeta já conhecia a Casa, morou lá por cinco meses, mas depois recaiu. Foi ele quem me apresentou esse lugar, que chamava de ‘Porto seguro nas tempestades da vida’, e que agora é o meu porto também”, disse.
Entre as atividades realizadas no local, o Piloto sentiu-se atraído pelas oficinas de informática, em que os próprios moradores da Casa de Apoio escrevem textos para um blog. “Através da escrita não me senti mais só. Pude externar, através das palavras, o que há no meu íntimo, desafabar, e contar um pouco do que sou e da minha história, foi aí que surgiu a ideia do livro”, disse.
Em dezembro nasceu Logoff, um livro terapêutico sobre as superações da vida nas ruas e contra a dependência química. Esta foi uma parceria com a Editora Pistis, que acreditou na ideia e lançou a obra, que é vendida pelo próprio Piloto por R$ 15,00, dinheiro que servirá para a ressocialização dele.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Sentimento
Já sabia que a dependência química
unia adictos no propósito de usar drogas e participar ao mesmo tempo de rituais
que faziam parte das orgias e ostentações regadas à substância.
Acabou a droga, acabou a parceria.
Vai um prá cada lado e se dane o mundo.
Saudade, sentir falta um de outro?
Comédia.
Só se for da substância em si, aliás,
a responsável por fazer um pensar no outro.
Acabou minha droga, será que o
indivíduo que estava comigo naquele dia tem mais?
Passo por uma experiência diferente
hoje.
Conheci um indivíduo que se
denominava “poeta”. Estava nas mesmas condições que a minha, ou seja,
acostumado a sentar no Banco da praça para beber o fruto de um bom mangueio
(pedir dinheiro). O que nos uniu em primeiro lugar foi isso. A atração. Depois
a conversa e a identificação na doença. Isso a princípio já foi o suficiente
para que, quando um não tinha, o outro tinha, mas não era por isso que o que
tinha caísse fora quando o outro não tinha. Aí começou.
Nos aprofundamos na rua, e já, quando
um se agachava para fazer as necessidades no canto do mocó, o outro ajudava a
puxar este para se levantar, tamanho a parceria e o companheirismo construído.
Isso foi longe, alguns anos até nos encontrar na Casa de Apoio, onde eu já
conhecia através das descrições dele, pois em outra época, ele já tinha passado
uns dias.
Foi a oportunidade que tive de
conhecer o Paulo poeta sóbrio por cinco meses.
Os lados positivos de uma pessoa
inteligente, companheiro e “amigo” superou a qualquer coisinha negativa que
ainda a sua personalidade de ser humano demonstrara e eu conseguia agora
perceber com mais clareza. Na Casa, “Porto seguro nas Tempestades da vida” na
qual ele a denomina, ele acabou sendo o meu Porto seguro diante das
dificuldades que eu encontrei aqui dentro. Tomávamos o nosso café rotineiro e
conversávamos. O respeito mútuo era predominante. Aprendi com ele tanto de um
jeito que acabou me conduzindo para, quem sabe, a liberdade e a felicidade,
como em outros momentos já dentro da casa.
Agora o mais importante. Ele foi
embora. Percebi que ainda sou capaz de sentir tristeza, e mais. Agora que ele
foi “prá longe”, fui notar a falta que este indivíduo faz na minha vida.
Tristeza prolongada me afetou, e o
luto começou. Sinto-me fraco e sem chão.
Nunca pensei que a dependência
química fosse capaz de me unir a uma pessoa com o mesmo problema que eu, e resultar
em uma grande amizade.
Alexandre.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
23 de Outubro
Hoje, como em qualquer
outro dia foi especial para mim. Não pelo fato de eu estar de aniversário, mas
como as pessoas reagiram a ele.
Na minha cabeça não mudou nada, nem
mesmo as orações que faço pela manhã, apenas o agradecimento, não só por um dia
a mais, mas por ter conseguido sobreviver um ano mais. A primeira vez que
percebo os dias que eu costumo viver independentes, como únicos, agora juntos e
representados como mais um ano.
Esta é uma data que me faz lembrar
tanto coisas positivas quanto muitas negativas.
Muitas vezes nos últimos anos não
tenho passado meus aniversários fora de clínica, ou na ativa usando drogas,
bebendo, sumido da família, da minha filha, dos meus amigos que ultimamente já
eram poucos.
O último passei na rua, e não me
lembrei nem da data. Estava fora de área e de espaço. Não ligava nem pela minha
saúde, iria me lembrar do meu aniversário?
Por incrível que pareça a data se
tornou marcante para mim quando numa vez eu estava na SERTE fazendo meu
voluntariado.
Em várias conversas que tive com o
velho Fernandes, na maioria das vezes sobre nós mesmos, nossas famílias, lembro
que comentávamos muito sobre datas.
Nessas era comentada sobre nossos
natais, final de ano, “aniversários”.
O velhinho, muito ligado, depois de uns
20 dias que tínhamos comentado sobre essas datas seu Fernandes lembrou-se. Era
uma quinta-feira - dia que eu fazia o voluntariado na SERTE.
Ele comentou que no próximo sábado
era meu aniversário. Nem eu mesmo estava ligado no dia que iria cair o tal.
Sem o mínimo de importância para
mim, porém para ele uma data importantíssima.
Foi impressionante, confortante e, naquele
voluntariado ganhei o meu dia.
Nem mesmo minha família que eu tinha
naqueles dias ainda na figura da minha irmã chegou a comentar algo mesmo
prevendo esta data.
O mais forte ainda foi à ansiedade
dele quando me disse que o meu aniversário não seria no dia em que ele poderia
me ver. Não era dia do voluntariado.
Depois de tantas e tantas conversas
sobre várias situações de aniversário meus e dele, agora ele não poderia passar
presente junto comigo.
A pessoa que naqueles momentos da
minha vida em que eu mais me sentia sozinho, me oferecia através do falso
comodismo e aceitação a sua companhia que para ele bastava para comemorar o carinho
que ele sentia por mim. Foi
emocionante. Fui sábado lá.
Aquilo era tudo, um presente que dei
à ele.
Ele comemorou e me deu um grande
abraço de aniversário.
Alexandre Bandarra
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
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